O Pergaminho de Olanor - Capítulo 2
Fim de tarde. Nuvens cinzas e brumas. Um caminho em meio a uma floresta escura e fria
Ela caminhava incerta, seus pés descalços tocavam raízes e pedras lisas que mais de uma vez a fizeram cair.
Ela não se lembrava de como chegara até ali. Mas mesmo sem entender como, ela sabia exatamente para onde estava indo.
A neblina era tão densa que suas vestes - uma túnica verde que chegava até seus tornozelos e um capuz negro a lhe cobrir a cabeça - estavam encharcados. Ela sentia o toque frio do tecido em sua pele ao mesmo tempo em que um vento suave porém ainda mais gélido atingia sua face. A floresta tinha cheiro de folhas mortas e coisas molhadas. Mas era um cheiro bom.
Ela olhou para os lados tentando ver algo entre as árvores e a névoa. Pouco se via naquele cenário, mas de tempos em tempos era possível ouvir sons como de passos ou uivos prolongados de alguma criatura que com certeza não era um lobo comum.
- Não olhe muito para a Floresta, minha jovem.
Ela parou. Era uma voz profunda e antiga, que de alguma forma ela sabia já ter ouvido antes. O estranho era não saber se ouvira aquilo concretamente ou se fora apenas em seus pensamentos.
Ela continuou. Sabia que logo após aquela curva estaria o Castelo em Ruínas.
...
Era um Castelo antigo, coberto pela hera e pelo musgo. Parte de sua estrutura desabara há muito, muito tempo e até os escombros foram tomados pelo paisagem como algo natural. As pedras da construção eram menos cinzas que as nuvens do céu; o contraste entre as diferentes tonalidades, juntamente com o verde escuro da vegetação que tomava parte de tudo gerava um espetáculo ao mesmo tempo belo e melancólico.
Ela sabia o suficiente da história do mundo de DOMINIAM para deduzir que essa era uma construção dos tempos da Primeira Era do mundo, quando o povo feérico governou com uma magia profunda e fez coisas impossíveis de serem feitas agora.
Ela caminhou até a entrada do Castelo em Ruínas, que era apenas um portal em arco. Sobre o arco superior inscrito nas próprias rochas ela leu: "ATLLAA".
No idioma Dominianto, que ela dominava perfeitamente, "ATLLAA" queria dizer "Morte".
Ela continuou. Atravessou o portal e viu lá dentro um castelo sem tetos, um salão imensamente espaçoso e imensamente envelhecido...e viu também aquele que ela já sabia estar lá.
Era um dragão vermelho com mais de de 15 metros de altura. A envergadura de suas asas passava em muito os limites das paredes laterais do castelo e se projetavam para fora. "Como eu não vi as asas antes de entrar?", Ela se indagou.
O dragão tinha olhos reptilianos de um verde que não existia na natureza. Eram olhos de dragão; mas ao mesmo tempo tão humanos quanto o dela.
- Você sabe quem sou eu? - disse o dragão, com a mesma voz que ouvira antes no caminho.
- Sim. Você é Arklax, o grande Dragão - Ela respondeu calmamente.
- E você sabe que lugar é este? - indagou a criatura.
- Não. Mas eu sei porque eu estou aqui - disse ela, olhando para os lados. Era famosa em todos os reinos pela sua inteligência aguçada e mais de uma vez reis, sábios e conjuradores cruzaram grandes distâncias em busca de seus conselhos - Eu morri. Eu estou morta.
Ela falou isso com pesar em sua voz. Ela soube no momento em que disse o que aquilo significava. E sentiu em sua pele um frio que não seria possível nem nas distantes Montanhas de Kendar no reino invernal de Valvento Norte.
- Ah, vejo que você sabe o que isso significa para o mundo - disse o dragão, abaixando seu pescoço enorme para encarar a humana frente a frente.
- Você precisa me levar de volta! - e pela primeira vez ela se sentiu livre do torpor que sentira até ali - Nosso mundo não está preparado. Não teremos a menor chance. Grande Dragão, eu imploro, me envie de volta...
- Você sabe que nem mesmo eu posso fazer isso.
Ela olhou para o dragão. Considerou todas as possibilidades, todos os planos, com toda sua inteligência. E não encontrou uma única palavra.
- Ela foi liberada? Ela já está no mundo dos vivos? - perguntou ela, angustiada.
- Ainda não. Isso leva algum tempo, até mesmo para Ela. Mas isso é inevitável - respondeu Arklax.
- E você vai permitir isso? - ela indagou, sabendo que ela não tinha o direito de fazer tal pergunta.
- É claro que não permitirei. Por isso trouxe você aqui . Eu achava que a pessoa mais inteligente do mundo já teria pensado nisso...
Ela jurou ter visto um sorriso naquele rosto draconiano.
Arklax levanta seu pescoço, olha para os céus como se sentisse algo.
- Está escurecendo aqui. Nas Sombras, talvez Ela nos encontre. Vamos.
- E para onde exatamente? - ela questionou.
- Para a Gruta do Tempo. Não fica muito longe daqui. É lá que está o Pergaminho de Olanor. Seus discípulos vão precisar dele. É a única chance que temos...
Continua...
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