O Pergaminho de Olanor - Capítulo 4
Vilarejo de Alikanor, Valvento Norte
Tudo aconteceu muito rapidamente.
Em questão de poucos segundos o céu se tornou ainda mais escuro, um vento impossivelmente gelado começou a soprar sobre os campos e uma neve escura e estranha começou a cair impiedosamente.
Miriana estava no meio da estrada que conduzia de volta a vila quando escutou um som indefinido.
"O que será isso?", pensou a caçadora, sentindo um arrepio percorrer suas costas. Seus instintos estavam alertas e ela sabia que algo estava acontecendo. Prestou atenção ao som.
Era um som baixo, mas que de alguma forma se sobressaia entre o som do vento e o farfalhar das árvores que sacudiam a margem do caminho.
Miriana apressou o passo, segurando com mais firmeza as duas lebres que caçara horas atrás.
Ela sabia que algo estava acontecendo. E esse "algo" não era de forma alguma uma coisa boa.
Cerca de 200 metros além daquele ponto, já na entrada da vila, Selenur, a única filha de Miriana, olhava assustada para as nuvens, e também para sua genitora, que agora despontava na curva da estrada.
Selenur era jovem - tinha 15 anos - e não pegara o último grande inverno do mundo. Caso ela tivesse presenciado aqueles tempos ela saberia que o frio do vento que soprava agora encontrava precedentes apenas nos piores dias daquele passado não tão distante.
Foi então que ela avistou as figuras espectrais levantando-se das árvores da floresta em direção as nuvens cinzas do céu sinistro.
Pareciam vultos, ao mesmo tempo irreais e concretos e levitavam como toalhas negras sopradas por uma ventania repentina.
No começo poucas figuras se levantaram, mas após alguns minutos uma grande procissão de criaturas sinistras literalmente voava pelos céus em uma fila ondulante.
As primeiras aparições passaram por fim por sobre a menina e por sobre a vila. A garota acompanhou com o olhar a direção para onde iam, intrigada e assustada.
Às sombras seguiam rumo às montanhas de Kendar, distantes muitos quilômetros da vila mas ainda sim visíveis no horizonte eternamente enevoado.
Havia um som continuo acompanhando o movimento das figuras Sombrias, e Selenur de alguma forma sabia serem estes os lamentos daquelas entidades.
Por fim ela retorna seu olhar em direção a estrada, esperando que sua mãe Miriana já estivesse próxima.
As figuras espectrais continuam a sair de dentro da floresta, mas algo não estava certo naquele cenário.
Miriana, a caçadora e mãe de Selenur não mais estava na estrada.
Selenur procurou vê-la às margens da estrada, ou até mesmo por entre as poucas árvores ao redor do caminho.
Nada.
....
De outros lugares, outras figuras espectrais se uniam a procissão acima. O número aumentava bem como o som lamurioso que produziam.
As criaturas pareciam sair da própria terra, das árvores e das rochas.
Ao longo de todas as vilas próximas as Montanhas de Kendar houve pânico, desespero e pavor. As pessoas se trancaram em suas casas, encolhidas e abraçadas umas as outras, na esperança de que tudo passasse logo.
Mas aqueles que foram pegos de surpresa ao longo dos caminhos tiveram um destino diferente.
De tempos em tempos algumas dessas entidades Sombrias desciam em direção aqueles que não tiveram a sorte de encontrarem abrigo.
Em movimentos bruscos essas pobres pessoas eram alçadas aos céus. Não haviam gritos. No momento em que as garras (?) das entidades tocavam os incautos ao longo do caminho, estes silenciavam e entravam em um tipo de entorpecimento.
Já era noite quando a última criatura passou pela última vila antes de alcançarem a grande Montanha.
Continua....
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